Os adeptos do movimento FIRE (Independência Financeira, Aposentadoria Antecipada) não querem trabalhar até os 65 anos. Eles preferem se aposentar mais cedo. Como? Maximizando sua renda atual, reduzindo ao máximo suas despesas, e investindo o máximo possível e o mais rápido possível. A idéia é certamente atraente, mas é importante estar ciente de que isso envolve uma série de riscos que podem comprometer o sucesso duradouro e viável de seu FIRE.
O princípio FIRE: investir cedo para se tornar financeiramente independente
A ideia do FIRE é eliminar todas as despesas não essenciais para conseguir uma grande capacidade de poupança durante as primeiras décadas de vida profissional. Depois, quando chegar a hora, viver de sua renda passiva. Os adeptos do movimento FIRE estimam que a quantia necessária para viver de sua renda passiva corresponde a 25 vezes sua renda anual. Isso corresponde a uma retirada de 4% ao ano sem diminuir seu capital. Portanto, se você estimar que precisa de 200.000 reais por ano para viver, precisará acumular um capital de 5 milhões de reais, que será seu valor FIRE, permitindo sua aposentadoria antecipada.
Finalmente, o que os adeptos do movimento desejam, e é um desejo legítimo, é maior controle sobre sua vida, com mais autonomia e tempo livre para dedicar a atividades que consideram mais gratificantes do que o trabalho assalariado.
Mas o objetivo de se aposentar precocemente e viver de renda aos 40 anos é realista?
Os erros e desafios para realizar o FIRE
Aqui estão os principais erros que podem impedir o sucesso do FIRE:
#1 - Um estilo de vida muito austero e desconfortável
Ser frugal é necessário para economizar e investir mais de 30% de sua renda. Mas isso pode não ser sustentável no longo prazo. Você está realmente disposto a reduzir seu orçamento de lazer, restaurantes e férias? Um estilo de vida muito austero pode causar frustrações e exigir esforços difíceis de manter ao longo do tempo. O princípio do FIRE não deve significar sacrificar o conforto e o bem-estar por 20 anos em favor de um futuro incerto. Economizar, sim, mas de forma razoável, para que essa longa jornada não se torne dolorosa. Se for o caso, talvez seja hora de redefinir suas prioridades e metas de poupança, pois encarar o período de poupança como um sacrifício pode comprometer sua motivação e o sucesso final de seu projeto FIRE.
#2 - Negligenciar o fundo de emergência
Ninguém pode prever o imprevisível, e por isso, um fundo de emergência em liquidez imediata é necessário para cobrir despesas inesperadas. Esse fundo de emergência deve corresponder a aproximadamente seis meses de despesas correntes. Não ter essa poupança disponível pode ser catastrófico, pois se seu dinheiro estiver preso em CDBs, Tesouro Direto, ou investimentos imobiliários, você poderá ter que recorrer a dívidas para atender a uma necessidade urgente de dinheiro.
#3 - Não levar em consideração a evolução de suas necessidades
As necessidades que você tem aos 25 anos não são as mesmas que aos 50. A família, a saúde e até mesmo o conforto de vida mudam com o tempo. Você não pode simplesmente projetar suas despesas atuais nos próximos 30 anos achando que elas não vão mudar. É muito provável que suas necessidades mudem com o tempo. Não considerar isso no cálculo de seu valor FIRE pode comprometer o projeto.
#4 - Subestimar os riscos e basear-se em cálculos duvidosos
Ao calcular seu valor FIRE, que é a quantia necessária para se aposentar antecipadamente e viver de sua renda passiva, muitas variáveis são frequentemente deixadas de lado. Por exemplo, a regra dos 4% é baseada em dados históricos de retorno dos mercados financeiros, com uma inflação de 2% ao ano. Mas essas projeções são incertas. O mercado financeiro opera em grandes ciclos, e se você se encontrar em um ciclo de baixa daqui a 20 anos, seu capital e sua renda serão impactados. Um retorno projetado anualizado não é a realidade. Em ciclos de baixa, seu capital pode perder 30% de valor em um ano.
Além disso, a inflação, cujo histórico conhecemos, mas cujos dados futuros são totalmente desconhecidos, é uma variável que pode distorcer muitos cálculos. Se tivemos uma inflação média de 2% ao ano nos últimos 50 anos, não há garantia de que será a mesma nas próximas décadas. Pode, por exemplo, chegar mais perto de 3%. Assim, se hoje você precisa de 200.000 reais para viver, com uma inflação de 4% ao ano durante 20 anos, isso se traduz em uma necessidade de 350.000 reais por ano, e não 200.000 reais.
O risco de projetar variáveis incertas no futuro é que sua estimativa FIRE pode se tornar inadequada para manter a qualidade de vida desejada.
#5 - Investir mal sua poupança
Finalmente, há a questão de como investir sua poupança. Isso é importante tanto para atingir seu valor FIRE quanto para gerar renda passiva que sustente seu padrão de vida quando você parar de trabalhar. Seja em ETFs, imóveis, ações, ou títulos, a rentabilidade não é garantida. Além disso, o risco fiscal deve ser considerado. Não há garantias de que as regras tributárias sobre o capital não mudem (negativamente para investidores) nas próximas décadas. Isso é mais um risco que pode comprometer seus planos FIRE.
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Planeje com cuidado e considere vários cenários
Considerando a incerteza das projeções baseadas em dados históricos, nos quais se fundamentam os cálculos FIRE, é provável que também seja prudente considerar um cenário desfavorável, pessimista, e, portanto, revisar a regra dos 4%, que é muito otimista, e adotar um percentual de retirada mais conservador, como 2,5%, o que equivaleria a um valor FIRE equivalente a 40 vezes suas despesas anuais.
Se você deseja seguir o método FIRE, precisará planejar com cuidado, investir com moderação e ser muito disciplinado. Lembre-se de que essas recomendações são voltadas para pessoas que ficarão fora do mercado de trabalho por cerca de 30 anos. Considere consultar um consultor financeiro para ajustar seus objetivos e estratégias.
Por fim, se o objetivo é evitar um emprego insatisfatório, não seria mais sensato, em vez de sair do mercado de trabalho, procurar um emprego mais gratificante?