Por André Neto Pires, Analista na XTB Portugal.
No dia 3 de janeiro de 2019, a eliminação do general iraniano Qasem Soleimani por um ataque aéreo dos Estados Unidos em Bagdá, Iraque, foi o suficiente para catapultar os mercados para o modo pânico do dia para a noite, e fazer o preço do petróleo disparar, com o Brent a ultrapassar os US$ 70!
Essa reação deve ao receio de que a degradação das relações entre os EUA e o Irã degenerasse numa guerra que cortasse o fornecimento de petróleo bruto do Médio Oriente.
Mas, até que ponto esse receio é realista? Poderia o Irã impactar o fornecimento de petróleo?
O estreito de Ormuz é o principal ponto de estrangulamento do mercado de petróleo. Cerca de 21 milhões de barris de petróleo passam diariamente por este estreito de mar entre a Arábia e o Irã, no golfo Pérsico. Um quinto da produção mundial!
Se o Estreito fosse paralisado pela geopolítica, o preço do petróleo, certamente, sofreria grandes oscilações.
Lembremo-nos que o ataque às refinarias sauditas em setembro do ano anterior levou à perda de 4 milhões de barris de produção, levando o preço a subir 15% em apenas um dia!
Num cenário de guerra, o Irã poderia bloquear o Estreito de Ormuz, apreender navios-tanque ou até atacá-los. Tal não seria novidade, uma vez que o Irão já bloqueou o Estreito várias vezes, nos anos 70, e realizou ataques a navios-tanque no final dos anos 80. Obviamente, essas ações receberiam uma resposta rápida de outros países e isso poderia levar a uma guerra definitiva no Médio Oriente.
Os Estados Unidos podem pressionar o Irã a deixar o Estreito de Ormuz aberto, ameaçando impor sanções adicionais. No entanto, deve-se notar que o Irão perdeu muitos contratados devido às atuais sanções e o PIB encolheu cerca de 10% no ano passado. O Irão pode simplesmente perder a paciência e desencadear outra "guerra" no mercado de petróleo, com implicações na economia global, pois os custos de transporte e energia aumentariam.
O transporte marítimo é o mais barato, rápido e eficaz, mas em tal cenário, os fornecedores poderiam ver-se forçados a procurar rotas alternativas.
O transporte terrestre também é possível graças aos oleodutos. No entanto, a capacidade de transporte de todos os oleodutos nos países que atualmente enviam via Estreito de Ormuz é de cerca de 10 milhões de barris por dia. A grande maioria dos oleodutos usados pelo Iraque atravessa a Arábia Saudita, pelo que, não poderiam ser usados para enviar petróleo de ambos os países ao mesmo tempo. Levando isso em conta, a capacidade de transporte diminuiria de 21 para 6,8 milhões de barris por dia, não sendo uma via alternativa suficiente.
Dito isto, a ameaça de uma quebra no fornecimento é uma realidade e, se o Estreito fosse bloqueado, o preço do petróleo poderia mesmo subir acima dos US $ 100 por barril.
Por André Neto Pires, Analista na XTB Portugal
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