Há pouco mais de uma semana para o segundo turno das eleições presidenciais, o candidado do PSL lidera as pesquisas de intenções de voto. No boletim apresentado pelo Datafolha, na quinta-feira 18/10, Bolsonaro abriu 18% pontos de vantagem sobre Fernando Haddad. A pesquisa também demonstra que a rejeição do candidato de centro-esquerda é maior do que a do candidato de extrema direita.
Opostos no âmbito político, os dois candidatos pretendem retomar o desenvolvimento econômico do país de forma bastante distinta, assim como apresentam propostas muito diferentes no que diz respeito a criação de empregos, privatizações e reformas.
Em seu plano de governo, Fernando Haddad defende a ideia de que o impeachment de Dilma Rousseff pôs fim ao crescimento da economia, ao pleno emprego e à inclusão social.
Para o petista, o país regrediu, “ficando aprisionado em uma armadilha recessiva que excluiu mais de 30 milhões de brasileiros do padrão de produção e consumo”. Na visão do ex-prefeito de São Paulo, o Brasil se encontra em um momento que exige uma mudança profunda nas dimensões econômica, social e política.
Jair Bolsonaro, por sua vez, critica a falta de liberdade individual no país, se comparada a intervenção do poder estatal. Para o candidato do PSL, o Liberalismo é o responsável por salvar bilhões de pessoas da miséria em todo o mundo, reduzir a inflação, baixar os juros, atrair investimentos e gerar oportunidades. De acordo com seu plano de governo, o deputado tem como prioridades o crescimento e a criação de empregos, e entende que o país nunca alcançará a estabilidade social enquanto houver fome, violência e miséria.
Quem assumir o governo no dia 1º de janeiro de 2019, encontrará um país com mais de 10 milhões de desempregados, um déficit de mais de R$ 100 bilhões nas contas públicas, uma dívida líquida superior a 50% do PIB e uma economia menor do que a de cinco anos atrás. A resolução ou o aprofundamento da crise passará pelas decisões a serem tomadas por quem vencer. Para que você conheça melhor como pensa cada candidato, enumeramos aqui algumas de suas propostas já explicitadas em seus planos de governo e durante a campanha.
As propostas de Haddad
Para ele, a recuperação do poder de compra é fundamental para a retomada do consumo, dos empregos e, consequentemente, da economia brasileira. O impulsor deste movimento será o “Plano Emergencial de Empregos” que facilitará o acesso ao crédito, principalmente entre os mais pobres. Ou seja, é o aquecimento do mercado interno que deve impulsionar o crescimento da economia no país.
O plano conta com a ação estatal em alguns pontos : os bancos privados, por exemplo, seriam sobretaxados por cobrarem spreads altos enquanto os juros dos bancos públicos cairiam e a geração de empregos viria da retomada do investimento público em obras paradas, hoje inviabilizadas pela situação das contas do governo e pela emenda constitucional do teto de gastos que o PT pretende revogar.
Haddad também promete impor um “equilíbrio fiscal” em seu governo. Obras de infraestrutura serão bancadas pelas reservas internacionais do país, recursos do BNDES e recursos privados. Quanto à reforma tributária, o petista defende a cobrança de impostos de lucros e dividendos assim como a criação do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado). Este último substituiria outros cinco impostos que incidem sobre o consumo: PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS.
Além disso, o ex-prefeito propõe a implementação de um sistema mais justo de cobrança de imposto de renda, reestruturando a tabela de pessoa física, aumentando a alíquota paga pelos “super-ricos” e isentando os brasileiros que ganham até cinco salários mínimos (R$ 4.770). Segundo Haddad, essa reforma tributária será orientada pelos princípios da simplicidade e da eficiência e garantirá que a União, os estados e os municípios não percam em arrecadação.
As propostas de Bolsonaro
O programa de governo de Bolsonaro propõe a criação de um grande Ministério da Economia resultante da fusão de pastas como as da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio. O banqueiro Paulo Guedes será o responsável por esta superpasta e pelo grande programa de privatizações previstas pelo governo Bolsonaro. Ele pretende usar o dinheiro arrecadado para reduzir em 20% a dívida pública de R$ 5,2 trilhões. Eles mencionam “cortes de despesas e redução de renúncias fiscais” (sem especificar quais serão) para acabar com o déficit primário em apenas um ano. Se a situação fiscal do Brasil ficar sob controle, Paulo Guedes e Bolsonaro acreditam que o país pode reconquistar o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco. Isso faria com que o país voltasse a receber investimentos mais consistentes, permitindo a geração de mais emprego e, consequentemente, o crescimento econômico. Este ciclo começaria por uma serie de ações que reduzem o Estado e oferecem abertura ao setor privado. Entre elas, a diminuição da carga tributária pela adoção de uma alíquota única de imposto de renda de 20% para quem ganha mais que 5 salários mínimos, a unificação de impostos pela criação do IVA, o fechamento de estatais, a redução dos atuais 29 ministérios para 23, a manutenção do tripé econômico de câmbio flexível e metas fiscal e de inflação, e a introdução de um sistema de contas individuais de capitalização para reformar a Previdência Social, além de ampliação da reforma trabalhista, com a criação de uma nova carteira de trabalho.
O que dizem os especialistas?
Em depoimento para o jornal Correio Braziliense, a professora de Economia da UERJ Maria Beatriz David de Albuquerque, afirma que nenhum dos dois projetos de governo serão levados a cabo. Segundo ela, “os dois são inviáveis e, certamente, haverá um redirecionamento das propostas”. Isso ocorreria porque, de um lado, Haddad precisaria ampliar o espectro político de apoio para vencer as eleições.
“O programa dele é de rompimento com a trajetória dos outros governos do PT, é isolacionista. Terá de flexibilizar seu projeto econômico”.
Já o plano econômico de Bolsonaro, desenhado pelo economista Paulo Guedes, não combina com a figura política do candidato do PSL, na opinião da economista.
“Bolsonaro é nacionalista, mas o programa é totalmente liberal. E ele mandou o economista calar a boca. Se for radical, vai sofrer o isolamento”.
Maria Beatriz ainda comenta que a reforma da Previdência e as privatizações serão um problema para o candidato do PSL. “Bolsonaro contou com o apoio dos militares, [e] tem muita coisa ligada à Defesa nas privatizações. Vai ter que rever isso. Como vai rever os privilégios previdenciários, se são justamente nos setores militar, judiciário e legislativo?”, indaga. Segundo a economista, Bolsonaro tampouco conseguirá resolver a questão da dívida pública em um ano, como está escrito no seu programa de governo.