A invenção da tecnologia criptográfica blockchain nascida com o Bitcoin permitiu responder a muitos problemas práticos no campo das trocas, graças ao seu princípio de registro descentralizado e totalmente seguro.
O Bitcoin revolucionou a forma de como vemos o dinheiro, permitindo fazermos pagamentos globalmente sem intermediários. Isso gerou inúmeras idéias para aplicações em outros setores da economia e da sociedade.
Reconstruir a democracia, capacitar as pessoas, pelas pessoas e para as pessoas é possível graças a essa tecnologia?
O declínio da legitimidade das instituições democráticas poderia, por exemplo, ser interrompida pela aplicação desta tecnologia, uma vez que é comum nas eleições que a integridade do voto seja questionada.
As alegações de fraude ou de pirataria, comprovadas ou não, levam inevitavelmente a uma diminuição da confiança dos cidadãos nas instituições.
O sistema de votação tradicional baseado no princípio do registro centralizado pode ser corrupto (fraude eleitoral, pirataria), e pode sofrer problemas técnicos (erros de informática ou falhas nas máquinas de votação). Alguns cidadãos podem ser arbitrariamente excluídos. Os registros descentralizados dos tipos blockchain não enfrentam tais dificuldades e oferecem um voto incorruptível e imutável, através de uma rede descentralizada, para um resultado transparente em uma base de dados aberta e acessível à todos.
É concebível utilizar a tecnologia blockchain para mudar as instituições democráticas mudando o sistema de votação. De qualquer forma, este é o desafio que certas organizações não governamentais, como Democracy Earth e Flux que querem usar a tecnologia blockchain para introduzir novas formas de democracia direta ou democracia líquida.
A democracia líquida, também conhecida como democracia delegativa, é uma forma de votação fluida para a qual a tecnologia blockchain é particularmente adaptada. O eleitor recebe um token de votação para cada pergunta sobre a qual ele é convidado a votar e tem a opção de votar diretamente ou dar seu voto, a um delegado de sua confiança para algumas questões também técnicas. Ele pode por exemplo optar por dar seu voto a um delegado de direita para uma questão econômica, a um delegado de esquerda para uma questão de sociedade e votar ele mesmo em uma questão relacionada às relações internacionais ou simplesmente delegar seu poder de voto à uma pessoa até que ele decida mudar de delegado.
Um experimento interessante foi realizado pela Democracy Earth, durante o referendo na Colômbia sobre acordos de paz entre o governo e as guerrilhas marxistas das FARC em outubro de 2016. A ONG organizou um voto paralelo, através da tecnologia blockchain, para expatriados que não podiam votar no referendo oficial.
O projeto de acordo, sobre o qual a população foi convidada no referendo oficial para decidir por sim ou não, foi dividido em 7 sub-perguntas. Uma centena de fichas de votação foram distribuídas a cada eleitor deste voto blockchain e eles foram convidados a gastar suas fichas de votação, em sim ou não, em cada uma dessas sub-perguntas, alocando o número de tokens de acordo com suas preferências.
O não prevaleceu e ganhou nitidamente no referendo oficial, mas os resultados da votação blockchain deixaram claro que apenas uma parte do acordo era realmente um problema para os eleitores. A conclusão deste experimento é que esse tipo de votação líquido permite ao público expressar opiniões, mais nuances e poderes públicos para compreender melhor a opinião popular, e assim responder melhor às suas legítimas aspirações.
Qual será a contribuição da tecnologia blockchain para o futuro da democracia? Ninguém realmente sabe disso, mas as possibilidades já são numerosas e as inovações estão apenas esperando para serem descobertas e implementadas.