Conforme o prazo se aproxima, fica mais claro que nunca que a dívida grega está longe de ser posta em ordem. Se o governo da Grécia, liderado por Alexis Tsipras, não pagar sua dívida de 1,6 bilhão de euros com o FMI até 30 de junho, será oficialmente declarado inadimplente, o que causaria a saída do país, se não da União Europeia, pelo menos da zona do euro.
A crise da dívida grega tem sido o centro das atenções na Europa por sete anos e a dívida atual ultrapassa os 284 bilhões de euros, uma quantia colossal equivalente a 160% do PIB do país em 2014. A Grécia só conseguiria pagar essa dívida em centenas de prestações num período de 40 anos, quitando-a somente em 2054.
Mais de 50% deste valor é devido ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (European Financial Stability Facility – EFSF), financiado por países membros da UE.
Outros credores incluem países membros da UE via empréstimos bilaterais, como a Alemanha (15,2 bilhões), França (11,2 bilhões), Itália (10 bilhões) e Espanha (6.7 bilhões), além de investidores privados, principalmente bancos estrangeiros. No total, a Alemanha já emprestou à Grécia 56,5 bilhões de euros e a França, 42,4 bilhões.
No início de junho, o Primeiro Ministro da Grécia, Alexis Tsipras, rejeitou agressivamente três alternativas apresentadas por seus credores internacionais, a saber, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI, chamando-as de “absurdas”. O ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, disse que as medidas eram “próximas de humilhantes”.
Os entraves nas negociações estão em sua maioria relacionados ao aumento do imposto sobre valor agregado (VAT), o aumento na idade para aposentadoria e as metas para o superávit primário.
Na última rodada de negociações, a delegação grega em Bruxelas apresentou um programa com o objetivo de fazer com que cheguem a um acordo. O programa apresentou soluções às três maiores preocupações da Comissão – estabilidade financeira, estabilidade fiscal e medidas de crescimento – mas não abordou a questão da redução dos valores de salários e pensões, nem o aumento do VAT sobre alguns produtos e serviços, como a energia elétrica.
Num pronunciamento em 16 de junho, a Comissão declarou:
"Embora tenha havido algum progresso, nenhum acordo foi firmado e ainda há lacunas significativas entre as propostas da Grécia e as demandas da Comissão, do BCE e do FMI sobre medidas permanentes (0,5 a 1% do PIB ou o equivalente a dois bilhões de euros por ano) para reduzir o déficit orçamentário."
Se não houver um acordo antes de 30 de junho e a Grécia não saldar a dívida, os membros da UE poderão ter nas mãos uma decisão difícil a tomar: manter ou não a Grécia na União Monetária Europeia. Uma “Grexit” (saída grega) depois de muitos anos de duras negociações e um resgate de mais de 240 bilhões de euros causariam sérias repercussões no futuro do Fundo Monetário Europeu.
O diálogo, contudo, não chegou ao fim e as discussões serão retomadas na quinta-feira, 18 de junho, na reunião entre os ministros das finanças da zona do euro (Eurogrupo) e a Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.
Apesar das dificuldades e do prazo próximo do fim, o ministro das finanças grego reiterou que ainda acredita que uma solução para a dívida grega possa ser acordada. Do mesmo modo, um porta-voz da Comissão, Jean-Claude Juncker, "continua convencido" de que uma solução “será apresentada antes do fim do mês."
Alguns acreditam que a Grécia buscará a ajuda da Rússia e, portanto, evitará o calote em 30 de junho. De fato, a Grécia ainda tem certa influência – a construção de um gasoduto que atravessará a Turquia, mas que também poderá se estender até a Grécia, o que faria deste país o ponto de partida para a distribuição de gás na Europa, se, é claro, a Europa apoiar o plano.
Os EUA não estão nada contentes com o projeto do gasoduto, tendo recentemente anunciado que logo teriam condições de abastecer o mercado mundial de gás natural liquefeito (GNL). O Presidente Obama pede à Europa que chegue a um acordo sobre a crise grega o quanto antes, mesmo que isso signifique afrouxar de algum modo o programa de austeridade. É verdade que outra crise financeira na Grécia poderia ser “potencialmente perigosa”, alertou, na semana passada, o Secretário de Estado Jack Lew.
Restam poucos dias para que as partes cheguem a um acordo e evitem a "Grexit", que poderia desestabilizar e enfraquecer a UE.