O resultado da eleição do legislativo britânico logo trouxe à mente a ideia de um "Brexit" (do inglês British Exit – Saída Britânica), ou seja, a possível saída do Reino Unido do grupo da União Europeia.
O resultado das eleições do parlamento britânico, ocorridas no último 7 de maio, garantiu aos Conservadores 331 das 650 cadeiras, assegurando-lhes a maioria na casa sem necessitar de alianças com outros partidos. No entanto, durante a campanha eleitoral, o líder do Partido Conservador, James Cameron, discutiu claramente o assunto da União Europeia e o future do Reino Unido como parte dela, mencionando especificamente a possibilidade de uma renegociação dos termos de participação do país. Ele também se comprometeu a lançar um referendo em 2017 sobre o relacionamento que o Reino Unido deveria ter com a UE.
O Partido Conservador britânico sempre se mostrou reservado, ou mesmo hostil, em relação à UE, a qual considera muito restritiva. Esta atitude é compartilhada por muitos empresários britânicos, como Graeme Macdonald, Diretor-Gerente da gigante da construção britânica JCB. Macdonald disse recentemente que "a regulamentação Europeia é um fardo pesado", acrescentando que:
"Ás vezes, é mais fácil fazer negócios com os EUA do que com a Europa."
Essa é uma opinião compartilhada por outros empresários, especialmente de pequenas e médias empresas, que se sentem como se tivessem que lutar contra a legislação europeia, por eles considerada embaraçosa e complexa. Graeme Macdonald não tem medo de dizer que seria muito melhor o Reino Unido deixar a UE, afirmando que "deixar a UE não faria a menor diferença para o comércio exterior". Esse ponto de vista, porém, não é compartilhado pela maior parte do mundo dos negócios, que acredita que o "Brexit" seria uma tragédia econômica anunciada.
É verdade que, deixando a UE, o Reino Unido não mais teria que participar do orçamento europeu, sendo suas contribuições frequentemente descritas como muito pesadas pelos legisladores fiscais, apesar da redução de 3% obtida por Margaret Thatcher em 1983. O Reino Unido também se livraria das regulamentações europeias implementadas por Bruxelas, recuperando o controle sobre sua política de migração, uma questão importante para a maioria dos britânicos.
O lado negativo do "Brexit", contudo, foi analisado por especialistas e parece apontar para sérias repercussões negativas na economia nacional.
Do ponto de vista administrativo, o procedimento para um país deixar a UE é complexo, demorado e caro.
O menor sinal de uma possível saída do Reino Unido em 2017 causaria elevado grau de incerteza no Mercado e redução de investimentos até a divulgação do resultado do refendo, se houver. A Libra Esterlina já passou por um período mais turbulento que o normal na ocasião da vitória dos Conservadores e da menção ao "Brexit". Empresas e bancos estão agora preocupados com o manifesto de James Cameron, como se já afetasse a economia britânica.
Do ponto de vista comercial, fazer parte da União Europeia permitiu ao mercado do Reino Unido usufruir de livre comércio, isto é, a remoção das barreiras entre os países da UE, tornando a mesma UE a maior importadora de produtos britânicos. De acordo com a organização Open Europe, se o Reino Unido não puder mais aproveitar o mercado único, os preços de vários produtos subirão, como medicamentos (+ 4.5%), produtos automotivos (10%), e alimentos e tabaco (+ 20%).
Do mesmo modo, o argumento do controle de imigração, defendido por aqueles que são hostis à UE, pode causar um impacto negativo na economia britânica que, como em outros países da UE, tem que lidar com uma população de idade cada vez mais avançada.
Economistas observaram vários cenários para quantificar o impacto do "Brexit". De acordo com as estimativas, uma saída “rápida” do Reino Unido custaria a quantia anual de 56 bilhões de libras (78 bilhões de euros) na década seguinte ao "Brexit", o que representa uma perda de -2.2% do PIB britânico. A Fundação Bertelsmann acredita que o PIB per capita pode cair até 14%.
Há outro cenário a ser levado em conta: a negociação da saída do Reino Unido acompanhada de um tratado de livre-comércio, como os que têm a Suíça e a Noruega. Desta maneira, o Reino Unido poderia conservar alguns dos prós associados a fazer parte de um mercado único. É um cenário plausível, embora o impacto econômico esperado dependa do ponto de partida: entre 0,8 e 0,6% do PIB. Mas, neste segundo cenário, o Reino Unido teria que acatar as regulamentações europeias.
Outros setores também podem sofrer um grande impacto, como a pesquisa científica, por exemplo, hoje amplamente apoiada por programas de fomento europeus. O "Brexit" causaria um revés sem precedentes para a comunidade científica britânica.
Os aspectos da União Europeia a ser votados num eventual referendo em 2017 ainda não foram claramente definidos, além de não haver garantias de que o peso das regulamentações seja o ponto central do debate.